A função social do gerenciamento do tempo e da busca por produtividade
A principal utilidade do gerenciamento do tempo e da produtividade é tornar as pessoas mais realizadoras, as empresas mais eficientes e o mundo um lugar melhor.
Por Felipe Achete.
Esse texto traz considerações que o ajudará a ter um papel mais protagonista em sua carreira, além de separar com mais clareza aquilo que é dever da empresa e aquilo que é dever do trabalhador dentro de uma relação profissional.
Caso introdutório
David e Barbosa trabalhavam num departamento de uma empresa farmacêutica com mais 18 colegas. Juntos, eles produziam um medicamento que melhorava significativamente a qualidade de vida de pessoas que possuem uma doença ainda sem cura conhecida. Todos os 20 colaboradores falavam com alegria de como o trabalho deles beneficiava a vida de tantas pessoas. Tudo andava bem para eles até o dia em que a empresa anunciou a compra de uma máquina que automatizaria o processo de tal modo que apenas um colaborador daria conta de toda a produção. Com essa inovação, outro fator a mudar é o custo do remédio que ficaria menor, permitindo que uma parcela maior da população pudesse se beneficiar desse medicamente que possuía um preço de venda um tanto elevado. O resultado foi a demissão de 19 pessoas, incluindo David e Barbosa.
Em sua opinião, a compra da máquina foi algo bom ou ruim?
A perspectiva da empresa
Esse é um caso com muitas perspectivas. Vamos analisar algumas delas e extrair algumas conclusões úteis. Comecemos pela empresa, refletindo sobre seu papel na sociedade, para então voltarmos ao caso.
Toda empresa tem uma função social, um motivo pelo qual ela existe. Uma empresa de alimentos, ajuda a nutrir as pessoas. Já uma consultoria de moda auxilia as pessoas a vestirem-se melhor. E é justamente porque as pessoas têm necessidades (ex.: nutrição) e desejos (ex.: vestir-se melhor) que elas aceitam pagar pelos produtos (ex.: alimentos) e serviços (ex.: orientações de moda) que essas empresas oferecem. Nesse sentido, a função social de uma empresa é atender as necessidade e desejos das pessoas, melhorando suas vidas. Há ainda uma outra função, a de gerar emprego e renda. Com isso, cada empresa, além de entregar seus produtos/serviços à sociedade, também oferece remuneração para seus colaboradores e proprietários, os quais usarão de seu dinheiro para comprar produtos e serviços de outras empresas. Dessa maneira, temos pessoas trabalhando para atender outras pessoas e pessoas comprando para gerar renda a outras pessoas. Além disso, a empresa também ajuda a sociedade com o pagamento de impostos.
Mas o cenário de atuação empresarial não é totalmente favorável às suas atividades, sobretudo por causa da concorrência que enfrentam. Portanto, as empresas precisam se esforçar para atender sua função social (entregar produtos e serviços gerando renda para colaboradores, proprietários e sociedade) de forma lucrativa. Se uma empresa percebe sua renda caindo porque seus produtos estão mais caros do que os dos concorrentes, ela precisa fazer algo. Do contrário, ela deixará de existir. Um dos caminhos que ela pode tomar é tentar diminuir seus custos e uma das maneiras de conseguir isso é automatizando o processo. Logo, se uma empresa exonera 19 colaboradores por motivos justos, ela está certa. Se ela mantivesse o emprego de todos, em algum momento ela fecharia por não ter condições de pagar suas contas (incluindo salários) e a situação ficaria ainda pior.
Agora, se a empresa diminui seu custo por meio de demissões, aumentando sua renda e não contribui com a sociedade de nenhuma maneira (ex.: investindo no desenvolvimento de outros produtos e serviços que atenderá outras necessidades e desejos), temos uma situação moralmente questionável. Seria como um cientista que descobre a cura de uma doença, não divulga e morre levando a solução consigo. Tudo aquilo que temos de bom, seja o conhecimento da cura de uma doença, seja capital financeiro, deve ser empregado pelo bem comum.
Essa última afirmação pode soar estranha mas considere, por exemplo, um empresário que conseguiu acumular um grande capital financeiro e agora não sabe o que fazer com ele. Por um lado, temos uma pessoa que certamente trabalhou muito e tem direito sobre o valor que acumulou. Por outro lado, essa pessoa não chegou a essa posição financeira sozinho. Esse empresário precisou da ajuda de muita gente (ex.: alguém deu a vida para ele nascer numa sociedade livre e poder ganhar seu dinheiro; alguém o alfabetizou; alguém cultivou o alimento que ele comeu; alguém lhe deu bons conselhos). Agora essas pessoas podem esperar dele uma forma de retribuição, a saber: manter a espiral de ajuda mútua entre as pessoas. E aqui não argumento que ele deva sair por aí distribuindo dinheiro, mas aplicando em algo que trará algum benefício social (podendo inclusive auferir lucro por isso).
A perspectiva do profissional
Assim como analisamos o papel das empresas no mundo, agora vamos começar analisar o papel de cada trabalhador.
Todo profissional vende parte do seu tempo por uma determinada quantia de dinheiro. Trata-se de uma relação de troca em que ambas as partes ganham. Alguém precisa de um produto/serviço e está disposto a pagar por isso enquanto que o outro precisa de dinheiro e está disposto a trabalhar por isso.
Continuando, todo ser humano tem um conjunto de características únicas que o distingue de qualquer outra pessoa, podendo contribuir com o mundo de um modo que nenhuma outra pessoa pode. Diferentes pessoas até podem fazer as mesmas funções, ocupar um mesmo cargo, mas ninguém pode substituir outra pessoa. Por isso, quanto mais eu, você e todos pudermos aplicar nossas competências em benefício uns dos outros, melhor. A diversidade de pessoas e empresas leva o mundo a um patamar de desenvolvimento que nenhuma pessoa ou empresa sozinha poderia levar. Portanto, ao trabalhar, uma pessoa dá sua contribuição singular ao mundo – e dar essa contribuição é o dever de cada um como ser humano.
O dever de zelar pela competitividade e pela empregabilidade
Uma empresa para permanecer viva precisa ser competitiva, isto é, reunir um mix de atributos (ex.: boa qualidade, bom atendimento e bom preço) que façam com que as pessoas queiram comprar dela. Quanto mais atributos, mais vantagem competitiva ela terá. E sendo mais competitiva, a empresa continua a gerar receita e atender as necessidades da sociedade. Veja o esquema abaixo.

Analogamente, um profissional precisa ter empregabilidade, ou seja, possuir um conjunto de competências (ex.: gerenciamento do tempo e liderança) que façam com que as empresas queiram que ele trabalhe para elas. Quanto mais competências, maior empregabilidade ele terá. E sendo mais empregável, o profissional continua a receber por isso e a contribuir com a sociedade por meio da aplicação de seus talentos únicos.

Repare na semelhança entre as figuras anteriores. Elas demonstram que ambos, empresa e profissional, possuem direitos e deveres a serem respeitados. Por exemplo, a empresa tem o dever de oferecer bons produtos e serviços a sociedade e é justo que receba uma compensação financeira por isso. Simetricamente, um profissional deve executar seu trabalho com maestria e também receber por isso. Vejamos outro conjunto de exemplos. A empresa tem o dever de pagar pelo trabalho do profissional e tem o direito de receber um bom serviço. Por analogia, um profissional tem o dever de prestar um bom serviço e o direito de receber por isso.
Evidentemente esses não são os únicos direitos e deveres que regulam a relação entre empresas e profissionais, os quais precisam ser bem entendidos, pois a falta de clareza de algumas dessas responsabilidades gera bastante atrito no relacionamento dentre eles. Vejamos alguns exemplos de mal-entendidos e alguns esclarecimentos.
Voltando ao caso
Lembra-se de David e Barbosa, colegas de trabalho demitidos? Pois bem. David era responsável pela qualidade do processo. O tipo de pessoa organizada e que está sempre aprendendo. Tinha bom relacionamento pessoal, inclusive com os fornecedores da empresa. Já em Barbosa temos a imagem do funcionário fiel e responsável. Em todos esses anos de empresa nunca se atrasou ou faltou um dia. Era um profissional dedicado e prestativo. Você imagina o que aconteceu com eles após a demissão?
David abriu uma consultoria e começou a prestar serviço na área de qualidade para outras empresas. Apesar de só saber como a qualidade se aplicava no ramo farmacêutico, ele percebeu que poderia adaptar conceitos e ferramentas a outros ramos de atuação. Além disso, ele usou do bom relacionamento que tinha com amigos e fornecedores para vender seu serviço. Não foi fácil para ele, pois ele precisou desenvolver algumas competências como gerenciamento de negócios, a qual ele não possuía, mas por ser organizado, ele foi capaz de montar um plano de ação, estabelecer prioridades e aos poucos aprender o que precisava fazer para o negócio prosperar. Hoje David já tem um colaborador e ganha tanto quando ganhava quando era colaborador da farmacêutica. Se você perguntar qual o sentimento dele sobre a demissão, ele dirá que se sente grato a empresa pois a aprendizagem que ele recebeu lá foi essencial para ele ter a própria empresa hoje.
Barbosa também não encontrou facilidade. Passou um tempo procurando uma vaga de emprego minimamente parecida com o que ele fazia na empresa e não obteve sucesso. Também nutriu em si a esperança de ser recontratado, mas isso não aconteceu. Como precisava trabalhar para complementar a renda da casa, aceitou ajudar um conhecido, proprietário de um pet shop. Lá ele fazia quase de tudo, atendia clientes, buscava e levava animais à casa dos donos, comprava produtos para o pet shop, e assim por diante. Barbosa ganha bem menos do que ganhava e embora até goste do serviço, as vezes sente que poderia fazer mais. Se você perguntar para ele qual o sentimento dele em relação a demissão, ele dirá que se sente decepcionado com a empresa, pois sempre foi um funcionário fiel e não esperava ser descartado daquela maneira.
Agora pense, por que os desfechos de David e Barbosa foram tão diferentes?
Protagonismo profissional
Pode-se responder a pergunta anterior de algumas maneiras. Uma delas é que David tinha uma empregabilidade maior do que Barbosa e isto ocorria por conta do conjunto de competências que ele tem e Barbosa não tem (ao menos, não com a mesma intensidade), tais como bom relacionamento interpessoal, flexibilidade, empreendedorismo e curiosidade intelectual.
Um ponto curioso é que embora possamos entender o ressentimento de Barbosa com a empresa, isso ocorre mais como um resultado da pouca competência de Barbosa do que pela ação da empresa. Note que David passou pela mesma situação e tem um sentimento positivo.
Outra forma de responder a essa pergunta é constatar que Barbosa terceirizou para a empresa um dever que era dele, a saber: o de cuidar da própria empregabilidade. Note que uma empresa não pode deixar de analisar seus concorrentes. Do contrário ela pode ser surpreendida e até mesmo fechar suas portas. Ou seja, ela não pode ficar contanto com a boa vontade do consumidor de comprar dela como retribuição por todo o tempo que ela trabalhou em prol dele (o consumidor não tem esse dever e a empresa tem o direito de exigir isso dele). Analogamente, Barbosa não poderia ter acreditado que a empresa teria movido céus e terra para mantê-lo no corpo de colaboradores (a empresa não tinha esse dever e nem Barbosa esse direito). O relacionamento empresa-profissional subsiste enquanto ambas as partes ganham. Quando essa relação se desfaz, o relacionamento também segue o mesmo caminho.
De fato, nenhuma empresa deveria ser totalmente dependente de um colaborador e nenhum colaborador deveria ser totalmente dependente de uma empresa. Em vez disso, ambos devem ser capazes de cooperar um com o outro e utilizarem dessa combinação de forças para um contribuir com a evolução do outro.
Quando esse relacionamento se desfizer, é claro que pode existir uma camaradagem entre as partes. Por exemplo, a empresa poderia ter estendido por um tempo algum benefício como convênio médico; poderia ter pago um coaching ajudando a pessoa em sua recolocação profissional. Assim como se o inverso ocorresse (o colaborador saindo da empresa), poderia acontecer dele ajudar a empresa apoiando o treinamento de uma nova pessoa nas funções que executava. Tudo isso é válido, mas não muda a tese defendida nesse texto.
Pare para pensar e note se essa não é uma perspectiva libertadora. Considere, por exemplo, quantas pessoas simplesmente morrem de medo de perder o emprego. Algo que muitas vezes ocorre porque essa pessoa não sabe como vender seu potencial para o mundo e/ou não reconhece que o potencial dela vai muito além de uma vaga numa corporação. Logo, quando mais a pessoa assumir para si a responsabilidade de sua empregabilidade, em vez de viver no medo, mais forte ela se tornará para lidar com uma eventual situação de desemprego.
Agora voltemos a pergunta inicial: a compra da máquina foi algo bom ou ruim? Talvez, no início do texto você tenha pensando que foi boa para empresa e para os consumidores (que passaram a comprar remédio mais barato), mas não para quem foi demitido. Agora vemos que não foi bem assim. Para David, para os clientes dele e para o colaborador dele, a compra da máquina foi bom. Pelo que a gente sabe da história, não foi bom para Barbosa e, talvez para os demais que foram demitidos (dependendo de eles terem assumido o protagonismo de sua carreira como David ou de terem delegado isso a um terceiro como Barbosa).
Agora uma outra pergunta: o gerenciamento do tempo e a busca pela produtividade é algo bom ou ruim?
Os benefícios do gerenciamento do tempo e da produtividade para a sociedade e para as pessoas
Como vimos anteriormente, se a empresa tivesse otimizado o processo com uma máquina, demitido colaboradores, melhorado sua margem e não tivesse revertido isso em benefício da sociedade de nenhuma maneira, temos a sinalização de que foi algo ruim. A produtividade é boa na medida em que ela promove o bem-estar social.
Analogamente, quando uma empresa promove um treinamento de gerenciamento do tempo para seus colaboradores, até pode ser que ela pretenda fazer disso uma oportunidade para diluir as funções de um cargo entre outros cargos e com isso diminuir seu custo fixo. Isso não é errado. O caso que discutimos nesse artigo ilustra isso. Mas isso seria um problema, caso essa prática leve seus colaboradores a ficarem continuamente sobrecarregados e estressados.
É bom notar que se uma empresa age assim, isso não chega a ser um problema tão grande para o profissional que tem boa empregabilidade, pois ele pode chegar a conclusão de que é melhor sair da empresa e de fato sair. Agora, para o profissional que não cuida de sua empregabilidade, tem-se um problema sério. É possível lute para dar conta de tudo e enquanto faz isso, acabe com sua saúde, acumule muitos problemas pessoais e ainda seja mandado embora como consequência dos problemas que passou a ter.
Uma pessoa que gerencia o próprio tempo e utiliza de estratégias de produtividade é uma pessoa que aprende a focar no que é importante e consequentemente se torna uma pessoa mais realizadora. Lembra-se que de ter lido acima que cada pessoa contribui com o mundo de um modo único? Pois bem, uma pessoa com essas competências tem a oportunidade de aperfeiçoar-se, melhorando sua empregabilidade a tal ponto, que poderia até abrir seu próprio negócio. E mesmo que resolvesse continuar como colaborador de uma empresa, esse profissional poderia contribuir muito mais para a sociedade. Isso ilustra como o gerenciamento do tempo e a produtividade tem um grande valor social.
Algumas pessoas podem procurar formações em gerenciamento do tempo e produtividade com o objetivo de se tornarem mais eficientes e se destacarem profissionalmente. É bem verdade que isso pode melhorara sua empregabilidade. Mas a função do gerenciamento do tempo e da produtividade não é aumentar as desigualdades entre as pessoas, mas sim permitir que elas desenvolvam o melhor de si e contribuam com o mundo por meio de suas competências.
É como o caso de David. Em vez dele pensar pequeno, ele pensou grande e, ao demonstrar sua competência para o mundo, foi capaz de ganhar o dinheiro necessário para si e sua família e ainda gerou emprego. Ou seja, aquilo que parecia um problema, se revelou uma oportunidade. Aquilo que parecia ser ruim, mostrou-se bom.
Conclusão
Concluo repetindo, toda pessoa é única e tem um potencial próprio para agregar valor à sociedade. Aperfeiçoe-se para transformar o seu potencial em realidade. Quando o mundo perceber, você sentirá que encontrou seu lugar e se consolidará no papel de verdadeiro protagonista de sua carreira.
Nesse quesito, a competência de gerenciamento do tempo e a aplicação de técnicas de produtividade podem te ajudar a utilizar melhor seu tempo para se aperfeiçoar e não o desperdiçar com atividades sem importância.
Observação: Releia as frases em negrito desse texto. Eles formam um resumo de seus pontos mais importantes. Isso deve ajudá-lo em sua memorização e aprendizagem.
