As sete lições de disposição pessoal

7 princípios básicos que o ajudarão a se tornar uma pessoa mais disposta e realizadora.

Por Felipe Achete.

 

Suponha que você precise aumentar sua disposição pessoal, qual das duas tarefas seguintes você escolheria: trabalhar 10h seguidas de pé em um ambiente mal iluminado, quente e barulhento ou dormir 10h numa casa segura, retirada no campo, onde só está você e o som de um riacho distante que parece cantarolar cantigas de ninar?

Se você escolheu a segunda opção, já intuiu a primeira lição acerca da disposição:

 

1ª lição: existem atividades que contribuem para nos deixar mais dispostos e atividades que contribuem para nos deixar menos dispostos

É até óbvio, mas não dá para começar a falar de disposição sem lembrar que devemos procurar fazer mais daquilo que energiza e menos daquilo que a esgota.

O problema é que a vida não é feita apenas de férias no campo, muito do que fazemos requer esforço e esforço consome energia.

Ainda assim, é importante verificar que mesmo atividades que exigem de nós, também podem ser fontes de uma forma de vigor. Qualquer pessoa que tenha um hobby ou que goste de seu trabalho sabe disso. A pessoa precisa enfrentar muitas situações adversas para alcançar seus objetivos, mas costuma sentir grande contentamento enquanto age e sente grande satisfação quando conclui seus projetos. Ou seja, por mais que trabalhar consuma energia, a própria atividade também produz uma espécie de disposição que mantém a pessoa ativa.

A chave está em sentirmo-nos conectados com aquilo que fazemos. Não por acaso existem tantas pessoas que continuam a trabalhar mesmo não tendo mais necessidade monetária para tal.

 

2ª lição: toda atividade consome energia, porém existem aquelas que geram mais energia do que consomem

Considere uma pessoa que faz atividades físicas regulares. Não há dúvida que isso consome muita energia, mas basta conversar com pessoas que as praticam e você notará que o relato delas acerca da própria disposição é muito mais positivo do que o relato de pessoas que não fazem qualquer atividade (as vezes chegamos a essa conclusão simplesmente observando essas duas classes de pessoas). Ou seja, se você subtrair a energia gasta na atividade, da energia ganha com ela, você terá um saldo positivo.

Logo, não tem problema fazer atividades que consomem muita energia se elas produzem mais disposição do que consomem. Outro exemplo, senão o melhor deles, é dormir.

 

3ª lição: a quantidade de disposição de uma pessoa pode ser aumentada por meio de certas atividades

Imagine que a disposição pudesse ser armazenada em um local do corpo, como a gasolina que pode ser armazenada num tanque de combustível. Podemos visualizar a atividade física aumentado esse reservatório, de tal modo que a pessoa tenha mais combustível para gastar, conseguindo fazer muito mais do que outras pessoas cujo reservatório é menor.

Portanto, devemos investir energia aumentado nossos ‘reservatórios de disposição’, pois isso nos dá condições de produzir mais e cansar menos.

Esse aumento de energia não ocorre apenas por meio de atividades físicas. Uma pessoa cujo hobby seja criar engenhocas provavelmente melhora suas habilidades de concentração, memória e imaginação de tal modo que ela consiga permanecer em atividades desse tipo muito mais tempo do que pessoas que não exercitam suas faculdades mentais.

Disso decorre a quarta lição.

 

4ª lição: parece existir mais de um tipo de disposição e cada uma contribui para um conjunto diferente de atividades

Voltando a analogia anterior, do automóvel, cuja energia provém tanto da gasolina como da bateria. Algumas funções dependem da bateria enquanto que outras dependem da gasolina. Dependendo do objetivo, um automóvel pode requerer um tanque de combustível maior ou uma bateria mais potente.

Dou o exemplo de quatro reservatórias: físico, mental, emocional e espiritual.

Uma pessoa não precisa ter seus reservatórios do mesmo ‘tamanho’ dos de outras pessoas, afinal, cada um tem uma necessidade diferente.

Outro fato importante é que nossos reservatórios aumentam de tamanho conforme nossas capacidades são exigidas.

Por exemplo, um músculo só se torna mais forte se for exigido, uma conexão neural (chamada sinapse) só se fortalece se for usada. Daí que um atleta precise praticar mais atividades físicas do que um cientista, o qual, investe muito mais tempo estudando do que um líder espiritual que, por sua vez, passa muito mais tempo orando do que a mãe de 5 filhos, a qual dedica-se muito mais administrando as emoções dos membros da casa e a sua própria.

Assim sendo, uma pessoa que deseja ser mais disposta deve exercitar mais o tipo de disposição que lhe é mais relevante.

Reforçando: algumas atividades o deixam mais disposto e essa disposição facilita sua execução de atividades.

 

5ª lição: é necessário equilíbrio entre os diferentes tipos de disposição

Normalmente investimos mais tempo naquilo que gostamos, portanto, nossos reservatórios devem ser maiores nessas áreas. Não por acaso tendemos a escolher profissões com as quais nos identificamos. Afinal, podemos continuar a exercitar as habilidades que nos dão maior contentamento. Não há nenhum problema nisso, ao contrário. Que bom seria se todos os médicos, motoristas, vendedores, eletricistas, padeiros, fossem realmente apaixonados por suas profissões.

Porém, devemos cuidar para que a nossa preferência por se dedicar a um conjunto de atividades não nos faça negligenciar a necessidade de cuidar de nossos outros reservatórios. Sendo mais concreto, um atleta também precisa cuidar de suas emoções para ter uma alta performance; uma mãe também precisa orar; um líder espiritual também precisa estudar; um cientista também precisa fazer atividades físicas.

 

6ª lição: os diferentes tipos de disposição parecem formar uma disposição só

Separar a disposição em tipos seria um recurso didático que ajudaria a entender suas muitas nuances, bem como nos auxiliaria a cuidar melhor de nós mesmos, mas na realidade somos um único ser e aquilo que fazemos numa ou outra área nos afeta sistemicamente. Essa constatação deve-se ao fato de que os tipos de disposição podem se influenciar mutuamente.

Por exemplo, pense uma pessoa que, por motivos religiosos, não coma além que seu corpo requer (a pessoa não é gulosa). Essa pessoa provavelmente será fisicamente mais saudável do que uma pessoa que não respeita esse princípio. Uma pessoa mais saudável provavelmente terá mais disposição para estudar e desenvolver-se intelectualmente. Por fim, uma pessoa física e mentalmente ‘bem resolvida’, provavelmente estabelecerá relações sociais/emocionais também de forma mais saudável (ex.: melhor autoestima). Note, esse exemplo é muito simplificado, pois o desenvolvimento de uma pessoa não ocorre de maneira tão mecânica assim. Mas essa ilustração ajuda a perceber as múltiplas inter-relações que podem se estabelecem entre os tipos de disposição.

Uma conclusão que essa lição deixa é que as vezes podemos encontrar a solução para um problema de indisposição em atividades não obviamente relacionadas com o problema. Analogamente, conclui-se que ao melhorar um tipo de disposição, a pessoa pode melhorar aspectos de sua vida que ela nem imaginou que melhorariam com sua mudança de comportamento inicial (ex.: uma dieta mais saudável como consequência de uma vida mais espiritual).

 

7ª lição: a disposição é social

Considere uma equipe de trabalho com uma pessoa ranzinza, negativa e mal-humorada. Agora pense a mesma equipe com uma pessoa alegre, divertida e que sabe respeitar os demais. Será que essa equipe seria a mesma? Será que seus resultados seriam tão bons, tão numerosos ou tão fáceis de alcançar? Penso que sua resposta seja não.

Todos nós podemos contribuir positiva e negativamente com o clima que se estabelece nos locais nos quais circulamos. É claro que o impacto que cada pessoa pode causar varia em cada caso, mas enquanto agentes que operam e modificam o ambiente onde estamos, todos nós temos esse poder. Também aqui existe uma relação sistêmica, a saber: afetamos e somos afetados pelo mundo que ajudamos a construir.

Portanto, devemos prestar atenção aos círculos sociais que frequentamos e com as influências que deixamos nos atingir. Todas eles podem contribuir positiva ou negativamente com nossa disposição. Como sua sábia vó talvez lhe tenha dito: não é bom permanecer na companhia de pessoas que não lhe fazem bem.

 

Conclusão

Provavelmente o fato de muitas pessoas sentirem-se tão indispostas não se deve ao desconhecimento dessas lições, mas sim da falta de busca pelo equilíbrio em suas vidas. Sendo mais direto, parece haver uma inversão de prioridades. Perde-se muito tempo com aquilo que pouco ou nada contribui para disposição e falta ações concretas para tornar-se mais disposto.

Você quer ser mais disposto? Produzir mais e ser mais realizado? Busque o equilíbrio pessoal e um ambiente social saudável. Atente-se às quatro áreas que mencionei nesse artigo (lição 4).

Tome cuidado para não se deixar enganar por falácias que justificam o sacrifício de seus bons hábitos de disposição em função de algo supostamente melhor. Um exemplo muito claro dessas falsas crenças está nos vícios. Por mais que eles possam trazer algum prazer para a pessoa (em geral momentâneo), eles provocam grande desequilíbrio e muitas vezes acabam com a vida dela. Outro mito, não tão óbvio, é acreditar que primeiro precisamos alcançar o sucesso para depois sermos felizes. Quantas pessoas se enterram em seus trabalhos deixando tudo de lado por pensar assim. Se esse é o seu caso, saiba que as pesquisas têm demonstrado que primeiro precisamos ser felizes – o sucesso é consequência (ACHOR, 2012).  Sim, pois quando uma pessoa está bem, ela se sente mais disposta para buscar seus objetivos. Como consequência, vem os resultados.

Portanto, tome cuidado com o que você acredita (ou no que escolhe não acreditar) e repense se você tem priorizado adequadamente o que realmente importa em sua vida.

 

Referência

ACHOR, S. O jeito Harvard de ser feliz: o curso mais concorrido de uma das melhores universidades do mundo. Tradução de Cristina Yamagami. São Paulo: Saraiva, 2012.

 

Esse texto faz parte do curso Gerenciamento da disposição no trabalho.

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